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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Necessito sobreviver

Ninguém consegue perceber seus lindos olhos azuis. É que o maior destaque dessa modelo hoje são seus seios murchos, a pele como um véu sobre os ossos e as escaras e manchas que se espalham por todo o corpo. Não era essa a imagem que Isabelle Caro, 25 anos e apenas 32 quilos, queria retratar, mas é a única que pode oferecer desde 12 anos atrás, quando começou a desenvolver a anorexia que consome seu corpo.

Isabelle ficou conhecida no mundo inteiro, em plena semana da moda de Milão, através das lentes do polêmico fotógrafo Oliviero Toscani. Os outdoors para a grife italiana No-L-Ita estão protagonizando debates sobre a anorexia. A imagem da modelo nua escancara a dura realidade de quem sofre dessa desordem alimentar e psicológica.

Em entrevista a uma rede de televisão espanhola, a modelo disse que chegou a pesar 25kg, quando teve que se mover em cadeira de rodas. Ficou internada várias vezes, teve que ser alimentada por sondas, mas só se deu conta de que sofria uma doença muito grave quando entrou em coma e viu que era “um cadáver vivo”, como se descreve. Ela disse que hoje se obriga a comer. Seu organismo está tão alterado, que os fios de cabelo se quebram antes de crescer. Perdeu dois dentes e quase não enxerga pelo olho esquerdo. Não menstrua há sete anos, e os médicos não sabem se um dia poderá gerar um filho. Ao mesmo tempo, diz que o maior castigo que poderia sofrer seria ter uma filha anoréxica, porque sabe o sofrimento que causou à sua mãe.
Isabelle diz que teve uma infância cheia de traumas. Uma tia se suicidou, o pai abandonou a casa, e a mãe era ultraprotetora, o que lhe tornou uma menina insegura, sem amigos e que nunca se atreveu a ter um namorado. Por muitos anos, responsabilizou sua mãe por todos os seus problemas. “Minha mãe não me deixava conhecer ninguém, e eu só podia sair de casa uma vez por ano, para visitar meus avós” e foi muito difícil convencê-la de que o melhor para as duas era que vivessem separadas e hoje escreve um livro com a intenção de que sua mãe lhe entenda e lhe perdoe.

Foi então que essa francesa fugiu de Paris e foi à Cannes. Estudou música e teatro e gostava de interpretar papéis para “mudar de pele e de realidade”. Nessa cidade, conheceu uma outra anoréxica, que estava se tratando com um psiquiatra. Ela tinha sempre a sensação de que necessitava castigar-se por algo. Sentia culpa por existir e pela depressão de sua mãe. Hoje, vive uma rotina de exames semanais e tenta recuperar sua auto-estima no momento em que tem menos motivos para senti-la.

Em toda a Europa, é grande a discussão gerada pela campanha de Toscani. Dizem que ele fez um trabalho para se promover às custas do sofrimento de milhares de jovens que, em busca do corpo perfeito, padecem de anorexia. Isabelle o defende. A modelo, que doou todo o seu cachê para uma associação de tratamento da anorexia, disse que uma anoréxica, mesmo que não se veja magra, reconhece a magreza dos outros. E que, por isso, espera que a sua possa chocar essas meninas, fazendo-as refletir.

“Não sigam seu caminho, vejam onde cheguei com minha idiotice”.

A modelo concluiu sua entrevista respondendo sobre sua meta para o futuro:
“Sobreviver. Necessito sobreviver”.

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