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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Aspectos neurológicos e sócio-culturais dos Transtornos Alimentares

anorexia, cultura
Vários estudos demonstram um aumento na incidência de alguns dos Transtornos Alimentares como conseqüência à evolução do padrão de beleza feminino em direção a um corpo cada vez mais magro, notadamente da Anorexia e da Bulimia nervosas. A Anorexia e a Bulimia parecem ser mais prevalentes em países ocidentais e são claramente mais freqüentes entre mulheres jovens, especialmente as pertencentes aos estratos sociais mais elevados destas sociedades, o que fortalece sua conexão com fatores sócio-culturais. É por isso que alguns pesquisadores entendem os Transtornos Alimentares como síndromes ligadas à cultura. De acordo com esta concepção, a pressão cultural para emagrecer é considerada um elemento fundamental da etiologia desses transtornos, os quais, juntamente com fatores biológicos, psicológicos e familiares acabam gerando uma preocupação excessiva com o corpo, um medo anormal de engordar e uma ansiedade marcantemente acompanhada de alterações do esquema corporal. Essas são, pois, as características da Bulimia e da Anorexia.

Em nível pessoal e neurológico, as condutas de alimentação estão normalmente reguladas por mecanismos automáticos no Sistema Nervoso Central . A sensação de fome tem origem dupla; tanto em estímulos metabólicos, quanto em receptores periféricos situados na boca e no tubo digestivo. Induz-se a sensação de apetite, que desencadeia conduta de alimentação. A sensação de saciedade faz cessar estímulos da fome e se detém o processo. As pessoas normais apresentam algumas reações adaptadas aos estímulos de fome e de sede, com respostas corretas para a saciedade. O hipotálamo é o local onde se situam os centros da fome e da saciedade mas, será no córtex cerebral o local onde se desenvolvem mecanismos mais complexos relacionados à alimentação.

Embora o processo da alimentação fome, sede e saciedade possa parecer fisiologicamente automático e elementar, eles não ocorrem apenas nos elementos neurobiológicos que regulam a conduta alimentar. Eles também estão vinculados à experiências vivenciais prévias. Portanto, existem outros mecanismos mais complexos e relacionados com nossas experiências psicológicas como sentimentos de segurança, bem estar e afeto que se experimentam a através do peito materno na lactação, antecedentes pessoais de carência extrema e outros regulando o processo da alimentação. Também se relacionam ao ato de comer, nossas experiências sociais, tomando-se por base o fato de que o ato de comer tenha um aspecto eminentemente social e cultural.

Normalmente as características dos alimentos definem os diferentes grupos culturais. Assim, culturalmente se diz "dieta mediterrânea, comida americana, italiana, indiana..., pratos típicos, menus tradicionais...., etc". Dessa forma, o ato de comer sempre foi e continua sendo um fenômeno de comunicação social. Através da comida o grupo social se sente reúne e se identifica, de tal forma que na maioria dos atos sociais a comida ocupa um lugar de destaque.

Devido a esses múltiplos aspectos atrelados ao comensalismo, existem muitas possibilidades de que o processo natural de alimentar-se varie no tempo e na cultura. Em algumas ocasiões a causa dos Transtornos Alimentares pode ser física, decorrente de doenças que dificultam o processo da alimentação ou alteram o aproveitamento normal dos alimentos, outras vezes, o processo da alimentação pode alterar-se por fatores sociais, tais como a religião, cultura, status, moda e outros.

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